Dicas de português
Por Dad Squarisi
dadsquarisi.df@dabr.com.br
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Ser chique é …
“O carro que você gosta está aqui”, diz outdoor espalhado pela cidade. Charmoso, o anúncio chama a atenção. Passantes o leem. Mas, ao bater os olhos no texto, põem a barba de molho. “Cadê a preposição?”, perguntam desconfiados.
Eis um calo no pé. Aliás, um calão. Boa parte dos brasileiros tem dificuldade de empregar o pronome relativo. É o caso de que, o qual, cujo, onde. Quando vem preposicionado, então, a dor aumennnnnnnnnnnnnta. A saída? Ir à raiz do desconforto. O caminho: entender a manha do doloroso.
… entender a bivalência
O relativo exerce dupla função. Uma delas: evita a repetição de palavras. A outra: liga duas orações. Quer ver?
Cachoeira chegou a Brasília há uma semana. Cachoeira está preso na Papuda.
Feia, não? Dois períodos tão curtinhos e dose dupla do substantivo Cachoeira. O relativo resolve a questão. Ele substitui o repeteco:
Cachoeira, que chegou a Brasília há uma semana, está preso na Papuda.
Visitei a Bienal de Brasília. A Bienal acabou na segunda.
Xô, repetição! Visitei a Bienal de Brasília, que acabou na segunda.
*
Minha terra tem palmeiras. Nas palmeiras, canta o sabiá.
Palmeiras mais palmeiras? Cruz-credo! Melhor pedir socorro ao relativo. Nas palmeiras indica lugar. O onde pede passagem:
Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá.
… e exibir a preposição
Às vezes, o termo repetido vem antecedido de preposição. Não vale engoli-la. No novo período, a mocinha aparece no mesmo lugar — antecede o pronome relativo. Foi aí que o anúncio tropeçou :
O carro está aqui. Você gosta do carro.
Reparou? O termo repetido é carro. O relativo o substituirá. Olho na preposição:
O carro de que você gosta está aqui.
*
A cidade se chama Tubarão. Vim de Tubarão.
A cidade de onde vim se chama Tubarão.
*
A empreiteira se chama Delta. A CPI se referiu à Delta.
A empreiteira a que a CPI se referiu se chama Delta.
Viu? Com o pronome relativo, a frase fica mais enxuta. Se ele for preposicionado, ganha charme e elegância. Olho vivo!
A sete chaves
Haverá CPI? Não haverá CPI? Deputados e senadores se reuniram em salas fechadas. Até baterem o martelo, sobraram conchavos. Ops! Conchavos? A palavra designa dependências da casa que se fecham com uma só chave. É o caso do quarto e da sala. Com o tempo, o vocábulo ganhou novas acepções. Hoje designa acordos. A razão é simples. Os conchavos são feitos em recintos trancadinhos. Depois, podem ser discutidos em lugares públicos. Só depois…
Filho de peixe…
“Cachoeira era useiro e vezeiro em subornar consciências”, repetem repórteres, políticos, empresários. A ladainha suscitou uma questão. É esta: por que useiro se grava com s e vezeiro com z? Trata-se do respeito à família. Na língua, filho de peixe peixinho é. Useiro é filhote de uso. Vezeiro, de vezo (costume, hábito). O s e o z funcionam como sobrenome.
Mania nacional
Médicos põem a boca no mundo. De um lado, falam das más condições de trabalho. De outro, da escassez de profissionais. Por fim, de hábito bem brasileiro. Nove em cada 10 tupiniquins tomam remédio por conta própria. Automedicam-se. Vale a pena, por isso, debruçar-se sobre o prefixo auto-. Como escrever os derivados? Com hífen? Sem hífen? A dissílaba pede tracinho quando seguida de h ou o. No mais, é tudo colado. Quando seguido de r ou s, dobra as consoantes para manter a pronúncia: auto-hipnose, auto-observação, autoafirmação, autodidata, autobiografia, autorretrato, autossuficiência.
Leitor pergunta
Depois da morte do papa João Paulo II, ouço Opus Dei a torto e a direito. O que as duas palavras querem dizer?
Carlos Melo, Boa Vista
O nome do grupo pra lá de conservador da igreja católica está escrito em latim. Em bom português, Opus Dei significa obra de Deus.
“O carro que você gosta está aqui”, diz outdoor espalhado pela cidade. Charmoso, o anúncio chama a atenção. Passantes o leem. Mas, ao bater os olhos no texto, põem a barba de molho. “Cadê a preposição?”, perguntam desconfiados.
Eis um calo no pé. Aliás, um calão. Boa parte dos brasileiros tem dificuldade de empregar o pronome relativo. É o caso de que, o qual, cujo, onde. Quando vem preposicionado, então, a dor aumennnnnnnnnnnnnta. A saída? Ir à raiz do desconforto. O caminho: entender a manha do doloroso.
… entender a bivalência
O relativo exerce dupla função. Uma delas: evita a repetição de palavras. A outra: liga duas orações. Quer ver?
Cachoeira chegou a Brasília há uma semana. Cachoeira está preso na Papuda.
Feia, não? Dois períodos tão curtinhos e dose dupla do substantivo Cachoeira. O relativo resolve a questão. Ele substitui o repeteco:
Cachoeira, que chegou a Brasília há uma semana, está preso na Papuda.
Visitei a Bienal de Brasília. A Bienal acabou na segunda.
Xô, repetição! Visitei a Bienal de Brasília, que acabou na segunda.
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Minha terra tem palmeiras. Nas palmeiras, canta o sabiá.
Palmeiras mais palmeiras? Cruz-credo! Melhor pedir socorro ao relativo. Nas palmeiras indica lugar. O onde pede passagem:
Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá.
… e exibir a preposição
Às vezes, o termo repetido vem antecedido de preposição. Não vale engoli-la. No novo período, a mocinha aparece no mesmo lugar — antecede o pronome relativo. Foi aí que o anúncio tropeçou :
O carro está aqui. Você gosta do carro.
Reparou? O termo repetido é carro. O relativo o substituirá. Olho na preposição:
O carro de que você gosta está aqui.
*
A cidade se chama Tubarão. Vim de Tubarão.
A cidade de onde vim se chama Tubarão.
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A empreiteira se chama Delta. A CPI se referiu à Delta.
A empreiteira a que a CPI se referiu se chama Delta.
Viu? Com o pronome relativo, a frase fica mais enxuta. Se ele for preposicionado, ganha charme e elegância. Olho vivo!
A sete chaves
Haverá CPI? Não haverá CPI? Deputados e senadores se reuniram em salas fechadas. Até baterem o martelo, sobraram conchavos. Ops! Conchavos? A palavra designa dependências da casa que se fecham com uma só chave. É o caso do quarto e da sala. Com o tempo, o vocábulo ganhou novas acepções. Hoje designa acordos. A razão é simples. Os conchavos são feitos em recintos trancadinhos. Depois, podem ser discutidos em lugares públicos. Só depois…
Filho de peixe…
“Cachoeira era useiro e vezeiro em subornar consciências”, repetem repórteres, políticos, empresários. A ladainha suscitou uma questão. É esta: por que useiro se grava com s e vezeiro com z? Trata-se do respeito à família. Na língua, filho de peixe peixinho é. Useiro é filhote de uso. Vezeiro, de vezo (costume, hábito). O s e o z funcionam como sobrenome.
Mania nacional
Médicos põem a boca no mundo. De um lado, falam das más condições de trabalho. De outro, da escassez de profissionais. Por fim, de hábito bem brasileiro. Nove em cada 10 tupiniquins tomam remédio por conta própria. Automedicam-se. Vale a pena, por isso, debruçar-se sobre o prefixo auto-. Como escrever os derivados? Com hífen? Sem hífen? A dissílaba pede tracinho quando seguida de h ou o. No mais, é tudo colado. Quando seguido de r ou s, dobra as consoantes para manter a pronúncia: auto-hipnose, auto-observação, autoafirmação, autodidata, autobiografia, autorretrato, autossuficiência.
Leitor pergunta
Depois da morte do papa João Paulo II, ouço Opus Dei a torto e a direito. O que as duas palavras querem dizer?
Carlos Melo, Boa Vista
O nome do grupo pra lá de conservador da igreja católica está escrito em latim. Em bom português, Opus Dei significa obra de Deus.
Extraído do site: http://www.correioweb.com.br/euestudante/noticias.php?id=28865