Foto: Thiago Cauduro
O caso real
A EE Madre Lucila Magalhães, de Vitória de Santo Antão, a 53 quilômetros de Recife, em Pernambuco, não é a mesma de quatro anos atrás. Na época, o desrespeito entre alunos era generalizado. “Os alunos se xingavam muito, o que acabava gerando agressões físicas também. Existia muito racismo e uma disputa entre estudantes de diferentes comunidades. Até o patrimônio da escola sofria ações de vandalismo”, conta João Francisco da Silva, professor de História.
Mas o “Stop Bullying”, um projeto de produção e exibição de filmes, liderado por Silva, trouxe novos ares para toda a escola, que atende 1100 alunos.
“Quando resolvi trabalhar assuntos ligados aos Direitos Humanos, em 2008, busquei fazer com que os alunos vivenciassem algumas situações na prática para que percebessem que as ações de violência precisavam ser erradicadas da escola porque comprometiam os laços de uma boa convivência”, explica Silva, que convidou seus alunos para produzir filmes sobre os problemas cotidianos de suas vidas, como drogas, violência, rivalidade e falta de respeito.
Primeiramente, o grupo escolhe o tema a ser trabalhado. Faz-se uma pesquisa sobre ele e só então se inicia a redação do roteiro. Depois vêm os ensaios e, por fim, a gravação e edição. A encenação torna possível problematizar temas difíceis de tratar por meio de debates reais. “A ficção transformou a realidade de nossos alunos”, analisa.
A participação dos alunos é garantida por meio de um revezamento das funções: roteiro, iluminação, manutenção, atuação. “Nunca deixo que ninguém fique de fora”, comenta o professor.
De 20 integrantes iniciais, hoje o projeto já conta com 120 alunos do Ensino Fundamental e Médio que participam dos encontros semanais no contraturno. Além de exibir os filmes nos espaços da escola, o grupo organiza apresentações em locais públicos da comunidade do entorno.
Aos poucos, o professor conseguiu mobilizar os alunos para uma discussão em torno dos problemas mais recorrentes na vida escolar e sobre a necessidade de mudança de comportamento. O problema não foi completamente extinto, mas uma iniciativa importante já foi tomada. “Antes, os alunos resolviam tudo por meio da violência. Hoje, eles procuram alternativas, principalmente, o diálogo para mediar conflitos dentro e fora do espaço escolar”.
Palavra de especialista
Casos de bullying sempre existiram no ambiente escolar. O que tem mudado, ao longo do tempo, é a forma como estes profissionais estão lidando com ele. “O problema não é ter conflitos na escola e sim como os educadores podem intervir de forma mais construtiva”, explica Adriana de Melo Ramos, pedagoga e doutoranda em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
O primeiro passo para se combater o bullying é identificá-lo e aceitá-lo. Para a pesquisadora, cabe aos professores e gestores estudar e debater o tema, planejar intervenções diretas com os alunos, levar a discussão às famílias e trabalhar com os espectadores. “Só existe bullying porque existe plateia. E é nesse público que os educadores devem focar ações mais específicas”.
Na avaliação de Adriana, o projeto “Stop Bullying” teve a sensibilidade de discutir temas de interesse dos próprios alunos por meio de histórias fictícias, o que contribuiu para que o grupo não se sentisse ameaçado. “É muito mais fácil para as crianças refletirem sobre situações hipotéticas para depois pensar em situações reais porque gera um envolvimento maior”, explica.
Mas a pedagoga chama a atenção para a necessidade de se desenvolver um trabalho de formação continuada com todos os educadores da escola, para que contribuam com a construção de um ambiente mais cooperativo e respeitoso. “Isso não pode acontecer apenas nas aulas do professor João, mas nas diversas aulas que os alunos frequentam, assim como na relação com a equipe gestora”, alerta.
Fonte: http://revistaescola.abril.com.br/gestao-escolar/video-bullying-642479.shtml
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